sexta-feira, 9 de março de 2018

Mentalidade induzida pela mineração

Numa porta da casa que nos recebeu, Pocilga, na Moita.



Até onde pude perceber, o procedimento das grandes mineradoras internacionais seguem certos padrões de comportamento nas relações com o poder público, as populações e o meio ambiente. Sendo as piores poluidoras de todo o sistema industrial, com rejeitos químicos altamente tóxicos, armam o esquema onde se instalam. Financiam campanhas eleitorais de prefeitos e vereadores, pondo na mão os poderes públicos, criam empresas de assistência social, fachadas benfeitoras, influenciam os municípios a desinvestir em outras áreas da economia local para criar dependência econômica. Isso faz as cidades dependerem das mineradoras, que passam a constituir poderes acima dos poderes ditos "públicos". Daí ser comum encontrar pessoas que vêem essas empresas como "benfeitoras", pelo trabalho de publicidade e márquetim intenso e profundo no inconsciente coletivo das populações.

Em Mariana podemos constatar essa realidade. As vítimas do crime da Samarco, que perderam tudo em Bento Rodrigues, são vistas com hostilidade na comunidade marianense. No comércio, quando se apresenta o cartão distribuído pela Samarco para manutenção dos que perderam suas casas, seus trabalhos, seus bens por causa da tragédia, o tratamento muda, o preconceito se apresenta, hostilidades aparecem, má vontade, desprezo e grosseria. Nas escolas, as crianças vindas de Bento Rodrigues são chamadas "pés de lama", numa demonstração perversa da mentalidade implantada. Os ex-habitantes de Bento Rodrigues são responsabilizados pela interrupção dos trabalhos da mineradora. Parece que não se sabe de denúncias, há mais de doze anos, do alto risco desta mesma barragem de Fundão, ignoradas pela empresa, pela fiscalização e pelo poder público. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) tem todos os dados comprovados, além de denúncias iguais sobre mais de sessenta barragens de rejeitos de mineração em todo o estado de Minas Gerais.

A inconsciência coletiva é oferta do sistema social, plantada profundamente pela infiltração mega-empresarial no aparato de administração pública. As vítimas, como é freqüente, são transformadas em "culpadas". A educação apresenta um modelo de ensino empresarista, não humanista, que forma competidores pro mercado e não pessoas preparadas pra integrar harmonicamente uma sociedade onde o ser humano está no centro de importância. A cada passo vejo o interesse empresarial e o patrimônio valendo mais do que a vida, a justiça, os direitos das populações.

Estamos em tempos de percepção da realidade, do acendimento de luzes, da revelação dos mecanismos de funcionamento e controle do Estado, dos chamados "poderes públicos", que jamais fizeram por onde merecer esse nome. Ninguém vai "mudar o mundo", mas o mundo não pára de mudar. Cada um que perceba seus próprios condicionamentos. Ninguém está imune.

Rua Direita, centro de Mariana.

3 comentários:

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  2. Que mundo eh esse! Como viver? Fazer igual aos macaquimhos🙈🙉🙊? A matrix controlando tudo e todos. Seus textos sao os melhores, obrigada!!! Todo mundo deveria ler seus textos para despertar dos condicionamentos impostos pela matrix.

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  3. Boa tarde
    Parabéns por compartilhar sua visão...
    Seu trabalho me levou ao livro QUARTO DE DESPEJO de Carolina Maria de Jesus o livro mostra uma realidade triste a da miseria no seu dia a dia intimamente sem se vitimizar.
    Como se faz para lidar com barreiras sociais indescritíveis principalmente com o sofrimento que tantas injustiças sociais causam e limitam ?

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